De que é feita a cultura alimentar cearense ?

Terra de Tupis, Tabajaras, Potiguaras, Canindés, Jenipapos, Aruás, Anacés, Tremembés, Paiacús, Tocarijus e do soberano Rio Ceará. Não tinham as riquezas que os europeus procuravam, tinham mais. De início praticavam caça, pesca, coleta de fruta e pouca intervenção nas terras através de agricultura, produzindo a mãe macaxeira e o indispensável milho, sem esquecer de seu maior companheiro, o feijão.

Terra em que o sopro de Deus é chamado Aracati e de águas marítimas rasas, que não permitiam a chegada das boas novas pelo litoral obrigou os portugueses e holandeses investirem em outras rotas de vida. Acreditaram na cana de açúcar e na agropecuária, principalmente do animal que eles próprios trouxeram de onde vieram. Estabelece-se então uma duradoura relação alimentar, capaz de não somente nutrir, mas também de gerar vários outros negócios, chegando até a expressões populares tão representativas como “é osso”, ou, “está só o filé”.

A resistência não aparece apenas dos povos originários, mas também em várias outras identidades. A farinha, o feijão, a carne seca (ou de sol), o cuscuz, a galinha, o capote, o bode, os carneiros iam aos poucos, no dia a dia, demonstrando que em terra cearense há de ser gente altiva, trabalhadora e agradecida. Para equilibrar, a doçura vem através da variedade das frutas e de todo o ciclo açucareiro que os invasores criaram. Doce de espécie, bolo de macaxeira, bolo de milho, alfinin, bulim, rapadura, bolo mole, elaborações com muito leite e caju compõe o Ceará sertanejo.

Do mar, não menos coragem. O Dragão do Mar assim não é chamado à toa. Os verdes mares que geram peixes vermelhos, caranguejos, camarões, sururu, arraia, piaba e fartura, tudo servido com grolados e pirões, preparados ao habito de assar em brasa e também da confortante comida caldosa, atraíram e atraem interessados e curiosos do mundo todo.

Terra de semiárido, que ao mundo as vezes se mostra mais árido, esconde tesouro em forma de serra. Café, licor, cachaça, aluá, fava, arroz, são algumas das surpresas que arregalam os olhos dos menos atentos.

Não é difícil amar o Ceará. Menos difícil ainda é reconhecer sua riqueza alimentar e entender do que é feito um coração cearense.


OBS- Foi através das histórias contadas na hora de dormir pelo pai, o agricultor Joaquim Francisco Borges, que José Francisco Borges, o mestre J. Borges, enveredou pelo mundo da sonora e ritmada poesia de cordel. Nasceu no Sítio Piroca, zona rural de Bezerros, município do Agreste Central de Pernambuco. Seguiu a mesma sina dos meninos vindos de famílias pobres, trocando as brincadeiras da infância pelo trabalho. Aos oito anos de idade já estava na lavoura e, aos dez, vendia na feira da cidade colheres de pau que ele mesmo produzia. Foi passador de jogo de bicho, pedreiro, carpinteiro, pintor de parede, oleiro, trabalhador da palha da cana de açúcar e vendedor. Se tornou artista, com obras premiadas e admirado em todo o mundo. Uma de suas obras é a que ilustra nosso artigo de hoje – OS CAJUEIROS.

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