Um dia, nos contaram que o primeiro restaurante abriu no século 18 em Paris, a um quarteirão do Louvre. Segundo a historiadora Rebecca Spang, o restaurante como um espaço social urbano surgiu do consomê. No princípio, ia-se à um restaurante (ou, como eram mais comumente chamados, na “sala de um restaurateur”) para beber caldos restauradores; assim como vamos a uma cafeteria para beber café.
Os primeiros restaurateurs serviam poucas refeições sólidas e anunciavam seus estabelecimentos como sendo especialmente adequados àqueles que tinham estômago muito sensível para fazer uma refeição à noite.
Segundo o escritor francês Camille La Broue, este foi o primeiro restaurante do mundo ocidental, fundado em 1765 por Monsieur Boulanger. As casas de Paris ainda não tinham cozinhas nesta época, obrigando a população mais humilde a procurar estabelecimentos para comprar alimentos e lugares que cozinhavam estes alimentos. Cozinha em casa era privilégio de poucos.
No ano de abertura do seu estabelecimento, Boulanger foi processado por vender alimentos que seriam consumidos nas instalações. Mas ele não desistiu. Aumentou seu cardápio , oferecendo uma variedade de pratos a serem consumidos no momento da escolha do cliente, e servidos aos comensais que se sentavam em pequenas mesas de mármore individuais, sem toalhas. Das opções, havia uma em especial. Um caldo (consomê) feito a base de proteína animal.
Em sua forma inicial, portanto, o restaurante era um lugar em que se entrava não para comer, mas para se sentar e, debilitado, consumir um caldo restaurador (daí surge o nome restaurante – lugar onde se restaura as forças através de uma refeição revigorante).
Tudo ia muito bem na nossa história, onde então o Boulanger e seu caldo restaurador, configuravam os elementos do primeiro restaurante do mundo, se não fosse pelos escritos de um monge chamado Alcuíno de Iorque nascido em Nortúmbria (hoje uma região que abrange o norte da Inglaterra e sudeste da Escócia) em 735 d.C.
Em um de seus escritos, o frade afirma que foi em Salzburgo que o Imperador Carlos Magno jantou no restaurante mais antigo do mundo! Não em 810 d.C, data aproximada da refeição, afinal nesta data o restaurante tinha apenas 7 anos de existência (o que pelos dados da Abrasel, já é considerado um negócio de suecesso). Mas em 2019 mesmo.
Sim, o St. Peter Stiftskeller que abriu em 803 d.C (Adega da Abadia de São Pedro, em tradução livre) é considerado então o restaurante mais antigo do mundo; e ainda em atividade, no alto dos seus 1216 anos!
Alguns acreditam inclusive que Mozart (nascido na cidade) era um cliente assíduo, assim como o navegador e explorador italiano Cristóvão de Colombo, que desfrutou de um copo de sua famosa cerveja Salzburg Stiegl pouco antes de pegar uma certa embarcação em 1492.
O restaurante foi forçado a fechar algumas vezes ao longo de sua história, inclusive durante invasões napoleônicas. Essas interrupções no serviço são a tecnicalidades que os seus atuais donos deixam de fora, para tentar a disputa pelo título oficial do restaurante mais antigo do mundo.
O estabelecimento hoje oferece experiências diferentes de jantar. Uma dessas experiências é o Mozart Concert, que é realizado semanalmente. A reserva é obrigatória (e varia de € 43 a € 115). Enquanto você degusta receitas históricas ao som das famosas obras de Mozart, interpretadas pelos alunos da Universidade Mozarteum Salzburg (vestidos a caráter), parece que é trasportado a um longínquo passado, segundo alguns clientes.
A cozinha une o estilo moderno e clássico. O cardápio muda constantemente e é adaptado de acordo com a época do ano, para garantir que apenas produtos regionais sejam usados. O melhor vinho dos vinhedos austríacos está na carta, segundo as críticas empolgadas do Trip Advisor.
Possivelmente o nome restaurante tenha sido alcunha advinda dos caldos de Monsieur Boulanger mesmo. Mas suas mesas individuais com cardápios talvez tenham sido inspirados em um grande mestre do Renascimento Italiano …
Mas isso é uma outra história, que contarei em breve para vocês!
Até lá
COMIDA RJ-CE 
Guterman é uma espécie de Sócrates da Gastronomia brasileira. Quanto mais lemos seus textos, mais nos aproximamos da única verdadeira certeza do saber: a de que não sabemos nada!
Excelente contribuição, professor!
CurtirCurtir
Belo texto professor!!! E para quem é amante de história é um prato cheio!!! Euzinha!!!
CurtirCurtir