Uma nota sobre as coisas que ela acredita

Trabalho ha 21 anos com comida. Por um amor, que iniciou meio sem querer e ficou maior do que eu. Nunca chefiei uma cozinha, mas chefiei várias cozinhas de outros modos. Não sei cozinhar, mas aprendi a cozinhar. Todo dia que amanhece, leio, estudo, pesquiso. Relaciono tudo a comida. Penso sempre na cadeia produtiva. Nos impactos e nas consequências que os hábitos alimentares e a cultura alimentar provocaram, provocam e provocarão. Acredito de verdade que cozinheiras(os) são transformadoras(es) e as(os) únicas(os) capazes de acabar com a fome das sociedades.

Mas não cozinho profissionalmente. Já tive marcas de queimadura, mas por exceção, e não por regra. Já fiz muitos cursos culinários. Mas nunca o curso superior de gastronomia. Respeito tanto quem cozinha! Admiro tanto quem tem o talento de harmonizar sabores! Quem é vocacionada(o) e consegue pensar em tudo, até na maneira mais bonita de servir.

Admiro tanto, que nunca coloquei uma dolmã. Nunca! Acho falta de respeito. Acho que seria o mesmo que pegar um bisturi e porque sabe usar uma faca, se sentir capaz de fazer uma incisão médica em alguém. Acho que as pessoas deviam pensar nisso. Que as(os) cozinheiras(os) deviam honrar suas dolmãs, Usa-las como símbolos de respeito e não como status. E que quem não é profissional, que devia respeitar. E não falo isso porque acho imprescindível usa-las. Não mesmo. Acho que você pode ser uma(um) super profissional de camiseta e avental sujos. Na verdade escrevo isso aqui agora, exatamente pelo contrário. Escrevo porque tenho visto a desvalorização aumentando tanto, que chega ao ponto de toda e qualquer pessoa que vai para frente de um fogão, achar que é profissional de cozinha e que pode colocar uma dolmã. Essas pessoas são iguais aos alimentos plásticos que temos comido. Iguais aos alimentos contaminados. Comemos, até sabemos que não é um bom alimento, mas comemos e não percebemos que de pouquinho em pouquinho, eles vão trazendo suas negativas consequências.

Deixe um comentário